Residência Artística: Almandrade. | Boobam

Residência Artística:Almandrade.

Por dentro do processo artístico.

Almandrade.

– Como você chegou a arte e como ela chegou a você?

"A arte foi uma espécie de desvio na minha vida. Difícil de explicar, era seduzido pelos livros e curioso com as imagens inventadas pelo homem, reproduções de obras de arte em livros e revistas me chamavam a atenção. Vivia ainda no interior da Bahia longe de qualquer experiência artística."

"A vontade de descobrir e aprender me impulsionou para a poesia, coisa de adolescente. Morando em Salvador para estudar e fazer vestibular (sem saber para que), comecei meus primeiros ensaios empíricos de pintura."

"Na poesia, por acaso, me defrontei com a Poesia Concreta e o Poema / Processo. Entrei na escola de arquitetura, não dispensei o fazer artístico. E já se passaram mais de 50 anos."

– Quais questões e temas tangenciam a sua prática artística?

"Questões e temas pousam, decolam, mas não dão conta da obra. A prática artística é um conhecimento silencioso que provoca inquietações e reflexões para quem olha ou experimenta."

"Transgredir a linguagem é uma questão para celebrar a incerteza do homem diante de sentidos possíveis ou de seu próprio destino. Inventar superfícies ou anteparos para a sensibilidade do ‘voyeur’ lançar sentidos e fantasmas, pode ser um tema."

"A própria natureza da arte, eu penso, é uma questão e tema a ser explorado pelo artista."

– Conte um pouco mais sobre o seu processo, inspirações e referências.

"A meu ver, fazer arte, antes
de mais nada, é mergulhar
em referências. É preciso aprender a pensar com os olhos, ou seja, ver o olhar
do outro que integra uma história da arte."

"A inspiração, se podemos falar de inspiração, não
surge de repente, é uma busca insaciável."

"Comecei mergulhado na literatura (poesia) e nas artes visuais, depois na arquitetura. Da visualidade poética à tendência construtiva e a Arte Conceitual no começo dos anos de 1970 definem o leque de referências que sustentam o processo de produção do meu trabalho."

– Onde começa, por onde passa e onde termina seu trabalho artístico?

"Não sei se existe um começo, meio e fim. É um desafio começar e concluir, a dúvida está sempre presente. Estou começando e recomeçando sem saber onde chegar, uma aventura, uma viagem onde os episódios do percurso interrompem o término."

"Um trabalho de arte está sempre para ser concluído quando alguém o olha. Um problema sem uma solução definitiva. O artista é um falsário, um inventor de ilusões, (lembrei de Orson Welles), que ultrapassa a realidade e a passagem do tempo."