Sarkis Semerdjian | Boobam

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Em algum momento, todo mundo já se perguntou como é a casa de um arquiteto. A função de idealizar, planejar e elaborar desenhos de um espaço ou obra arquitetônica é repleta de desafios.

O primeiro deles, talvez, seja o de traduzir os gostos do cliente em um projeto, sem deixar de trazer o seu toque pessoal. Minimalistas, escapistas, retrô: são muitas "casas do arquiteto". E aqui a gente te conta um pouco o que descobrimos nas nossas visitas.

O apartamento onde Sarkis mora com a mulher em São Paulo foi projetado por ele mesmo em conjunto com o time de seu escritório, o Pascali Semerdjian. Quem adentra se surpreende com a estética contemporânea repleta de detalhes pouco óbvios e carregados de humor.

Quando comprou o apartamento original dos anos 60, no Itaim, Sarkis precisou de um tempo para decidir que caminho tomar no projeto de reforma. “Como arquiteto nós vemos tantas coisas, temos tantas referências e possibilidades, que quando precisamos desenvolver um trabalho para nós mesmos fica difícil escolher por onde ir”, conta ele. Após alguns meses de amadurecimento, a obra começou, e ele decidiu que aproveitaria para fazer experimentações que não eram possíveis de aplicar em projetos de clientes.

Nessa toada nasceram os móveis nada convencionais da sala de estar, que servem de apoio para as coleções de revistas e CD’s. Desenhados pelo próprio escritório, as peças consistem em volumes de pedra no chão e suspensos, atravessados por blocos de madeira.

Casado com a economista Ani Afyan, Sarkis comprou boa parte do mobiliário em lojas holandesas. “Antes de nos mudarmos, Ani morou na Holanda. Sempre que viajava para lá, aproveitava para circular em busca de móveis e objetos especiais”, lembra ele. Foi assim que eles começaram juntos a construir o acervo que têm hoje. “Fomos comprando aos poucos e sempre pensando muito se realmente queríamos ter aquele produto, pois são todos originais”. Entre os itens está o par de poltronas Papa Bear, de Hans Wegner, e a luminária da Rispal Paris, dos anos 50.

Além de desenhar o design de diversos móveis presentes ali, Sarkis reconfigurou a planta de 110 metros quadrados do apartamento. Bastante compartimentado em sua distribuição, o programa passou por algumas modificações para atender a demanda por amplitude e por mais área social. Foram eliminadas paredes da cozinha, da entrada de serviço e de um dos quartos, que com isso foi transformado em sala.

Assim, o estar ficou totalmente integrado à cozinha. Nele, há cantinho de leitura, salas de jantar e de TV – tudo delimitado pela distribuição de mobiliário, mas reunido em um ambiente único. “Privilegiamos a parte social na reforma e criamos espaços para diversas ocasiões ali. É onde passamos a maior parte do tempo quando estamos em casa”, conta Sarkis.

Para o projeto fugir do óbvio, ele trouxe ainda toques de irreverência e humor, em uma mistura elegante e ousada de estéticas contemporânea e vintage.

“O hall de circulação se destaca no apartamento. Ele parece um volume solto e meio que não conversa com o resto do projeto. Isso é proposital, pois queria surpreender”, diz o arquiteto. O ambiente ganhou paredes de tijolos e concreto aparentes e portas de diversos tamanhos e estilos.

Apesar de ter interferido pouco na reforma, foi Ani que deu a Sarkis a coragem para ousar no projeto.

“Ela nasceu e viveu na Armênia, quando ainda estava ocupada pela União Soviética. Então, tinha referências muito diferentes das minhas. Quando veio ao Brasil, em 2011, fez um comentário que me marcou. Disse que as casas de arquitetura contemporânea em bairros de alto padrão são todas iguais: caixas de concreto. Não existe nada mais socialista e soviético do que isso”, lembra Sarkis.

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Diante dessa impressão, ele não podia fazer do apartamento deles esse lugar comum que ela apontava. “Missão difícil, mas bem cumprida. Ela adorou”, finaliza ele, aos risos.

Jornalista convidada: Flora Monteiro @floramonteiro
Fotógrafo: Eduardo Magalhães @maaagaaalhaaaeees
Produção: Manoela Moura @manolamoura