Casa do Arquiteto:Nildo José.
Entrevistas que passeiam por dentro da casa
(e mente) dos mestres da arte de morar.
Entrevistas que passeiam por dentro da casa
(e mente) dos mestres da arte de morar.
A função de idealizar, planejar e elaborar desenhos de um espaço ou obra arquitetônica é repleta de desafios. O primeiro deles, talvez, seja o de traduzir os gostos do cliente em um projeto, sem deixar de trazer o seu toque pessoal. Minimalistas, escapistas, retrô: são muitas "casas do arquiteto". E aqui a gente te conta um pouco o que descobrimos nas nossas visitas.
Nos interiores, móveis assinados por Jean Prouvé e Jorge Zalszupin dividem espaço com peças de designers contemporâneos, como Ricardo Graham, Paulo Goldstein e Humberto da Mata.
Quando Nildo entrou no apartamento e olhou a vista da varanda, teve certeza de que era ali que queria morar. A paisagem da capital paulista ficava totalmente descortinada diante de seus olhos e era possível ver até mesmo bairros distantes.
Com 80 m2 e pé-direito duplo, o apartamento fica em um predinho, na Vila Madalena, projetado pelo escritório franco-brasileiro Triptyque. “É um edifício especial. As entradas das unidades são independentes, o que dá bastante privacidade para os moradores”, conta Nildo.
Com as chaves em mãos, o arquiteto decidiu transformar o pé-direito duplo em mezanino e assumir a varanda, deixando-a aberta para o cenário da cidade, em vez de transformá-la em parte do living. No térreo, ficou o estar integrado à cozinha e os dois banheiros. E no segundo andar, o quarto e um closet espaçoso.
“Como o apartamento é pequeno, eu conectei os cômodos e tirei partido da multifuncionalidade de móveis e ambientes. A cozinha, com os eletrodomésticos embutidos, faz parte da sala, que por sua vez se integra à varanda”, explica ele. “O meu apartamento anterior, da década de 90, era bastante setorizado, e eu não me identificava com a planta. Tinha o sonho de viver em um espaço integrado”.
Nildo se mudou há quase um ano e trouxe para cá apenas móveis novos, com a proposta de criar interiores elegantes e com leve referência industrial. Estão ali mobiliário contemporâneo brasileiro e italiano e itens assinados por Jean Prouvé e Jorge Zalszupin, além de produtos desenhados por ele, caso do sofá verde e da mesa de jantar.
Quem entra na casa, logo reconhece a identidade do trabalho de Nildo. “Foi a primeira vez que fiz um projeto para mim. Trouxe muito do DNA dos meus projetos”, pontua. O estilo minimalista, que valoriza o essencial em detrimento de escolhas exageradas, assim como a paleta de tons neutros e a relação íntima dos interiores com a natureza são marcas registradas da arquitetura do anfitrião que se fazem fortemente presentes ali.
O branco é onipresente, passando dos móveis aos revestimentos. Chama a atenção o papel de parede da sala, assinado por Lucas Simões. “O interior marcado pelo contraste do branco com o branco foi proposital. Não à toa, acomodei a obra em forma de mandala, da Jacqueline Terpins, sobre o papel de Lucas”, conta ele. Plantas e árvores também roubam a cena.
Na varanda, onde ocupam quase que a totalidade da área, há um encontro de espécies raras e singelas com outras mais comuns. É ali, no limiar entre o ambiente a céu aberto e o living, que Nildo passa a maior parte de seu tempo – ora descansando na poltrona, ora cuidando das plantinhas.
Formado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na capital paulista, ele nunca chegou a trabalhar com grandes nomes. “Eu gostaria de ter colaborado com arquitetos que admiro, como o Isay Weinfeld, mas não tive tempo”, diz. Antes de pegar o diploma, Nildo fez o apartamento de um amigo e, na sequência, começaram a aparecer muitos outros clientes. Atualmente, ele tem uma equipe de dez profissionais
Matéria exclusiva para o Blog Boobam
Jornalista convidada: Flora Monteiro
Fotos: Luiza Florenzano