Benzimentos
No início da pandemia, enquanto eu transferia meu ateliê de São Paulo para Águas de Lindóia, no Circuito das Águas Paulista, a alegria de viver em contato com águas terapêuticas e a natureza local se misturava com os desafios do momento coletivo.
Meus trabalhos, sempre marcados pelo uso de carvão e contrastes monocromáticos, aos poucos cederam espaço para as cores, como uma urgência interna, um desejo restaurativo. Assim, o universo da pintura me atravessou novamente.
Minhas primeiras experiências foram com as formas *vesica piscis que costumo criar, recortadas em máscaras e transferidas em finas camadas de tinta a óleo sobre meus desenhos em papel, originando a série ‘Benzimentos’. Esta série marca um importante momento de transição, pelo inicio do uso sistemático da cor e também por abrir caminho para desenhos coloridos em grandes formatos e uma retomada da pintura a óleo sobre tela, trabalhos que desde então venho desenvolvendo.
Benzer – vem de ‘bendizer’, abençoar, ou seja, um momento intencional onde lançamos um novo olhar para algo. Portanto, é uma intenção ‘curativa’ que, na raiz da palavra, significa integrar à consciência uma nova visão, um novo mundo. Todos os meus trabalhos falam sobre isso de muitas formas: a capacidade humana de imaginar, benzer e criar novos mundos.
O processo começa com um desenho gestual leve, estabelecendo as dinâmicas do campo e as primeiras intuições sobre os caminhos a seguir. Geralmente, me baseio em plantas e flores curativas para os primeiros grafismos de base, algo muito cotidiano para mim que também sou terapeuta e utilizo florais alquímicos.
Sobre esse desenho, intercalo outras cores e formas no mesmo plano, aplicando camadas finas e transparentes de tinta a óleo com algodão sobre o papel, processo que batizei como "pintura de algodão", que hoje é a base da minha pintura a óleo sobre tela. Por fim, introduzo pequenas formas em relevo com massa de tinta a óleo, criando contrastes entre os grafismos, a transparência e a superfície.
O jogo espacial sempre teve uma centralidade assimétrica, com os elementos em suspensão, buscando criar uma expressão de caráter etérico, que para mim funciona até hoje em todas as séries - como uma evocação de forças vivas e curativas presentes na natureza, nas mitologias humanas e, sobretudo, nos mundos imaginais.
*Vesica piscis – é uma forma resultante da intersecção entre dois círculos com o mesmo diâmetro. Para os estudiosos da geometria sagrada, desde o Egito antigo até os dias de hoje, essa operação visual é compreendida simbolicamente como o nascimento da luz e da manifestação da criatividade da vida, matriz do surgimento de todas as formas e consciências.
Detalhes da técnica
Materiais gráficos e tinta a óleo sobre papel Fabriano 90g
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