Esta obra participou da exposição individual “Adágio Aforismo” em 2022, na Galeria Plexi em São Paulo.

Renato Gosling busca nas insignificâncias do cotidiano, e do prosaico, remontar aspectos relativos à crendices, costumes e jargões populares de certo passado-presente de culturas brasileiras. Passado-presente este que remonta ou rememora traços marcados por uma temporalidade, ressaltados em um gesto, uma frase ou uma memorabília específica, de certo espaço-tempo, mas que ainda habitam o imaginário comum e integram a experiência do brasileiro.

Muitos dos aspectos que circundam suas produções dizem respeito à esse movimento de resgate, que busca no mundano e na história os elementos que compõem as topografias de uma população multicultural e cheia de aforismos. Neste movimento, o artista deflagra aspectos que alinham-se ao surrealismo, no sentido sur-real em que situa a condição do objeto não a um mundo fantástico, mas a uma realidade elevada, intrínseca ao pensamento, uma espécie de hiper-realidade, em que o mundo natural – das coisas palpáveis – e o mundo cultural – do sensível – fundem-se.

Valendo-se da fatura quase industrial em suas produções, Gosling ergue um construto que subverte as características denotativas dos objetos representados por meio de alterações nos significados dos signos. Essas alterações são estabelecidas em singelas ordenações, configurações entre elementos incompatíveis e alterações de perspectiva, em escala.

O arrojo empregado em suas obras evidentemente eleva o caráter do gesto-objeto representado, contudo Renato parece ter um olhar muito atencioso para essas minúcias que são elegidas a tornarem-se objetos artísticos, e que por vezes atuam como fator de dissolução de fronteiras erguidas entre os povos.

“Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro / Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas) / Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil / Fiquei emocionado / Sou fraco para elogio” – Manoel de Barros